praça e piscina.
Hoje acordei saudosa de um momento específico.
Quando meus pais ainda estavam casados, tínhamos o costume de acordar cedo aos sábados para fazer piquenique na praça e depois ir ao clube tomar banho de piscina até o fim da tarde.
Fazem 12 anos que meus pais estão separados e esses momentos eram os que eu mais almejava durante a semana. Não eram todos os sábados ou domingos que fazíamos isso. Geralmente, eram dias de família em que estávamos juntos após brigas ou cobranças para que meu pai estivesse mais presente na minha vida e do meu irmão. Eu ouvia tudo. Sempre.
Apesar de saber que algo não andava bem a anos na relação deles, eu aproveitava o máximo que eu podia. Afinal, eu devia ter entre 8 e 10 anos. Eram momentos maravilhosamente gostosos quando estávamos na rua. Eu adorava passear de carro e passar o dia inteiro nadando nas piscinas.
Lembro de ter um medo imenso da maior piscina do clube. Eu me tremia toda ao entrar nas bordas que já corriam a água gelada da piscina. Era uma piscina natural, um rio corria ali perto e alguém pensou que fazer caminhos para aquela água cair dentro de uma piscina feita de um concreto cheio de pedras seria uma boa ideia e, era sim. Por ser uma piscina natural com o fundo de areia, consequentemente era escura e com lodo. Eu morria de medo de ter cobra ou uma miniatura do Monstro do lago Ness capaz de engolir qualquer ser humano adulto, imagine uma criança gordinha.
Eu só entrava nessa piscina com meu pai. Ele entrava sempre primeiro, foi algo que ele me ensinou desde sempre.
“Filha, sempre que você for em algum lugar que não seja uma piscina que você possa ver o fundo, espere alguém entrar primeiro e aí depois de um tempo você entra.”
Assim o faço até hoje. Eu sempre espero alguém entrar antes de mim.
Eu adorava entrar naquela piscina com ele. Água corrente e geladinha conquista meu coração, sempre me senti renovada ao pular e nadar até a coluna de concreto que tinha no fundo da piscina. Era só até ali que dava pé pra mim… A pontinha da pontinha do meu dedão do pé e muito equilíbrio. Eu já sabia nadar, mas tinha medo de passar dali porque aos meus olhos infantis era uma piscina gigante que antes de chegar do outro lado dela nadando, eu perderia o fôlego e morreria afogada. Isso sempre passava na minha cabeça ansiosa e desesperadamente infantil.
Dentro daquela piscina com meu pai eu me sentia infinita. Nada poderia ser tão gostoso do que passar horas e horas brincando com ele ali. Eu lembro de detestar dividir a atenção dele com meu irmão mais novo. Hoje é o do meio. Meu conforto e escape era que meu irmão tinha muito medo de água. Então, geralmente ele ficava brincando na escada com minha mãe, que quando a vejo nas lembranças, não parecia estar tão contente assim. Cansaço, tristeza ou mais um episódio de mostrar uma família perfeita que já extrapolava a sanidade mental dela mesma?
Minha mãe se sentia feliz mesmo era na praça. Lembro de vê-la arrumar as bolsas a contra gosto e chateada por sempre gerar uma confusão ou discussão velada dos meus pais ao decidir o que levar ou não. Ou seja qual fosse o motivo, eles não pareciam mais satisfeitos com a relação dele, será que é projeção minha ou se tornou uma memória distorcida pelo tempo? Não sei e talvez nunca saberei.
Gostoso mesmo era ver minha mãe gargalhar com as brincadeiras e presepadas minha e do meu pai, que são muito semelhantes até hoje. Quando estamos juntos ainda arranca gargalhadas da alma dela e molha os olhos de tanto rir. Nós levávamos bicicleta, bola, bambolê, brinquedos feitos por nós ou qualquer outra coisa que fosse entretenimento para duas crianças com as baterias carregadas de energia que precisava ser gasta.
Uma das lembranças mais engraçadas que carrego do meu irmão nessa época, era a risada de desespero dele. Ele sempre ria descontroladamente quando acontecia algo que o deixava nervoso. Ele ria tanto nesses momentos que a veia do pescoço dele inchava e eu ria dele rindo e da veia tufada. Nós sempre estávamos disputando a atenção de um deles, talvez pela diferença significativa de idade ou pelos nossos atravessamentos daquela época que refletem até hoje na nossa personalidade e dinâmica familiar. Era gostoso demais fazê-lo rir com as minhas gracinhas ou quedas forjadas.
Tínhamos a brincadeira das cores no chão da praça. A calçada era feita em triângulos gigantes, cada um dele tinha uma cor. Cada triângulo compunha um chão colorido da Praça Mário Corrêa. Eu amo aquela praça e amo as memórias deliciosas que tenho quando penso nela. Nessa praça, além de muitas árvores, grama verdinha, bancos e um orelhão em formato de tucunaré gigante também tem um coreto. E o coreto também rendia brincadeiras com cores e pulos. Meu pai amava fazer essa brincadeira comigo e meu irmão.
Hoje, acordei saudosa desses momentos em família que tem um lugar especial no meu peito e na minha memória de infância. Queria mesmo era poder abraçar eles com aqueles bracinhos e amor transbordante da Yanka de 8 anos.
Talvez, esteja saudosa assim porque esse ano quem faz 8 anos é Luna. E mais gostoso ainda foi já ter levado ela para brincar comigo nos triângulos coloridos da Mário Corrêa. Pulei e ri muito com ela naquele coreto quando ela tinha apenas 3 anos. Queria pode levá-la esse ano, depois que ela fizesse 8 anos para ensiná-la a andar de bicicleta lá e fazer um piquenique com bolo, suco e muita risada.
Ou talvez o saudosismo de hoje, sejam os pagodes que estão rolando na playlist da minha casa com o Maurício. Sim, hoje cada um de nós se encontra em um canto diferente. Nós tomamos caminhos diferentes mesmo atravessando um o caminho do outro diariamente. Ouvir Revelação e não lembrar dos churrascos na Getúlio Vargas de janelões brancos, com varanda puxadinha e uma mureta que tinha uma pista de corrida pintada por meu pai para brincar com os hotwheels do Dudu, não tem como não lembrar do banco branco em baixo do jambeiro que meu pai e meu irmão plantaram e o poste branco… Não tem como.
Pai, mãe e mano Dudu eu tô com saudade de vocês. Tendo piscina ou praça ou só encontro virtual, eu continuo os amando como a Yanka de 8 anos, mas com a maturidade da Yanka de 24. Não vejo a hora de poder abraçá-los e sentar para confraternizarmos juntos como fizemos em 2019. Chorar de rir, passear, conversar, cozinhar e brigar… Porque não tem como ser a gente se não houver tudo isso e no fim das contas, se amar como cada um é e todos os dias aprender que é isso… Cada um tomou seu rumo e tem suas vivências diferentes, mas que no fim das contas, sabemos sempre para onde podemos voltar.
Se cuidem aí que me cuido aqui.