Por que escrever?
Porque é nesse canal que eu encontro a minha cura do dia-a-dia.
Porque são nas palavras que consigo me expressar da forma mais branda e potente ao mesmo tempo. Foi nessa linguagem que aprendi que todo texto parido, eu falo o não dito.
É dentro de infinitos criados por mim dentro da minha pequenez disfarçada de grandeza que encontrei uma forma de me comunicar com o mundo externo e o interno.
Escrever sempre foi algo em que me senti pronta e nascida pro mundo. Eu comecei com cartinhas de amor à minha mãe, eu sempre fiz questão de deixar escrito o quanto eu a admiro, lembro como se fosse hoje quando me procuraram para escrever para a festividade do dias das mães na escola em que minha mãe trabalhava. A carta mais longa e lida por último, foi a minha. Fiz um auditório de mães se derramar em lágrimas ao dizer à minha mãe o quanto eu a amo. Depois passei a escrever quando estava apaixonada na pré-adolescência. Aqueles textos expressavam as minhas fantasias mais íntimas com alguém. Eram naqueles textos que eu flutuava dentro das minhas paixonites platônicas. Me lembro de ter escrito uma cartinha de amor à um garoto que treinava comigo. Ali eu senti meu estômago revirar e meu rosto queimar quando soube que ele leu a carta. Ele não veio falar comigo. Talvez, eu tenha o assustado demais com a sinceridade das minhas fantasias.
Grande parte das vezes, eu não sei lidar quando alguém diz que escrevo bem. Sempre acho que posso melhorar mais e a partir disso, deixei meus textos maturarem conforme eu sou/estou maturando. Decidi não editar mais conforme o tempo for passando. Comecei a sentir que apagava meu processo e minhas caminhadas durante o tempo passado-presente em cada mudança feita dentro dos textos e me questionei: por que não escrever outras versões do mesmo assunto?
Hoje eu escrevo aqui, mas já escrevi muito numa outra plataforma. Aqui existem meia dúzia de textos escritos e guardados pois ainda não estão prontos para serem paridos. Também escrevo meus textos mais secretos e doloridos num caderno antigo que o busquei com a intenção de formar um memorial de minhas versões e visões.
Para mim, o mais belo da escrita é a forma flexível e infinita de interpretações que podemos fazer. A interpretação, como e onde toca é de singularidade de cada ser. É por escrever demais que eu consigo me ler, me entender e parar de me julgar quando me releio em cartas virtuais destinadas a mim mesma.
Hoje, eu recebi um elogio lindo enquanto trocava muito afeto, cumplicidade e sinceridade. Enviei meu texto à ela por ter sido escrito somente para ela e me conduziu a um lugar lindo de me observar e me valorizar enquanto uma mulher que escreve arte falando de si.
Sempre quis escrever sobre outras coisas e teorias para além de mim e dos meus processos, mas é falando de afeto que eu me encontrei na escrita. Posso escrever por horas se estiver afetada. Posso não escrever uma palavra se eu também estiver afetada.
Hoje, fui de um extremo à outro com muita facilidade. De um choro copioso por quase 2 horas, fui conduzida ao um afeto transparente e potente ao ler coisas lindas. E pasmem! O que eu fiz? Transformei a insegurança, a dor e o ciúme em palavras escritas à mão no meu memorial com tinta roxa e muita força da caneta contra o papel. E, agora estou aqui escrevendo mais um pouco, dessa vez sobre meu processo de escrita.
Há quem goste de Freud que lerá e dirá que a sublimação está servida. E é isso que a escrita é para mim: transbordamento daquilo que não cabe só no pensamento, é transformar aquilo que dói, incomoda e descompassa em arte-letras na conjuntura socialmente aceitável.
Escrevo para me organizar, para me conduzir a lugares saudáveis e ir de encontro aos meus conflitos e desemaranhado que nascem e morrem no percorrer dos caminhos. Escrevo para amar, chorar, sofrer, me acolher e recalcular minhas rotas. Escrevo para existir e existo para escrever. E se conduz ao teu íntimo e te faz refletir é um sopro de calor morno na minha alma.
De cada varal-palavra tecido por mim há um pouco de cada pessoa que me atravessou, existe cada letra-linha que eu li desde os 4 anos de idade, tem letra-conversa escutada escondida ou posta em panos limpos. Em cada letra que sai do meu pensamento tem um pouco de mim, de ti e de todes nós.