O que ficará de lição após a pandemia?
Será que iremos valorizar os pequenos momentos após o caos passar? Será que iremos diminuir o consumo e o abuso de corpos que são explorados diariamente? Será que somos capazes de desejar consumir menos e aproveitar o que já temos?
Esses questionamentos ficaram rondando na minha cabeça durante a semana após assistir o vídeo “Você consegue mudar?” de Flor e Manu. Já iniciei três textos a respeito desse tema e espero conseguir conseguir terminar algum deles algum dia. Porém, hoje eu resolvi escrever sobre valorizar os pequenos momentos em que nós sempre tivemos mas que durante a rotina foram se perdendo. Arrisco dizer que alguns deles eram incômodos mas que hoje, depois de 34 dias de quarentena daríamos qualquer coisa para revivê-los.
Essa noite eu sonhei com um amigo, mais amigo do meu namorado do que meu, mas nossos laços estão se estreitando à medida que o tempo vai passando. Foi um sonho lindão cheio de sol e de amor. Nós nos abraçamos e eu conseguia sentir o carinho daquele abraço exalando pelo restante do sonho enquanto a luz do pôr-do-sol nos iluminava, furamos a quarentena para tomar banho de rio e ainda me chamava para correr, logo eu…
Quando acordei senti uma saudade do caralho de abraçar meus amigos, em especial esse amigo do sonho pela conexão inexplicável que senti desde a primeira vez que o vi. Contei pra ele do sonho essa tarde e acabei dizendo “foi tão bom te ver no sonho, amigo!” porque foi muito bom poder abraçar alguém e pareceu tão real que acordei precisando abraçar meus amiges. E enquanto contava para ele do sonho, ele relembrou o abraço coletivo que demos no início do ano após um trabalho lindo e onde eu mais senti a força em todos os trabalhos que já participei na vida. Não lembro se cheguei a comentar com ele sobre esse trabalho e sobre a luz lilás que nos conectou o trabalho inteiro, inclusive é a cor que eu passei a enxergar o laço dessa amizade.
Coloca em cheque outra saudade pulsante nos meus dias: ir ao sítio sentir o amor de todas as pessoas que vivem lá e trabalhar. Ver as ciganas em suas danças nas árvores ao entardecer, ouvir o sino tocar avisando que é hora de trabalhar, de sentir o vento refrescando minha pele, de sentar na casa da mãe Claudia e ouvir os peixes pulando no lago. Saudade eu sinto mesmo do abraço de todo mundo após os trabalhos, de perguntar como estão as coisas, de dizer que pensei em alguém dali e ouvir que pensaram em mim também…
Sentir essa saudade me faz pensar em todas às vezes que eu desisti de rolê para ver meus amiges por pura preguiça de sair de casa. Me faz pensar em todos os rolês que não deram certo ou que eu justifiquei não ir por não ter dinheiro ou porque não tinha alguém para ficar com a minha filha mesmo sabendo que se eu quisesse poderia ter dado um jeito. Me faz pensar nas vezes em que me bateu a bad e eu só queria ficar em casa deitada e não conversar com ninguém e muito menos ver alguém… E aí eu me pergunto: e quando o distanciamento social acabar e eu ver meus amigos outra vez cairá no esquecimento toda essa saudade e voltarei a justificar não sair com eles?
Talvez não seja o caminho mais certo de pensar e me culpabilizar por não ter saído e sim compreender que naqueles momentos eu não estava com vontade de ir e tudo bem por isso, mas que lá no fundinho da minha alma dói porque foram oportunidades que eu tive de abracá-los.
Eu abracei uma das amigas que eu mais amo nessa vida em um dia que furei a quarentena e fui deixar uns livros pra ela em sua casa. Talvez ela não faça ideia do quanto eu quis morar naqueles segundos de abraços e o quanto eu quis eternizar aquele amor que senti naquele abraço… E que eu ainda não esqueci do nosso combinado de ter uma noite de meninas com filmes, pipoca na bacia roxa e sorvete de creme com amendoim e caramelo. Eu não vejo a hora de poder morar no abraço e no carinho dela outra vez, mas dessa vez sem ter medo de nos contaminar.
Esses 34 dias me fizeram ver o quanto eu me tornei abraceira e o quanto eu gosto de fazer carinho nas pessoas que me cercam, quanto eu sinto falta de calor humano e de estar perto de outras pessoas, mas também me faz perguntar: será que quando o distanciamento social acabar porque o vírus foi controlado, a gente vai ter medo de se tocar e de demonstrar amor com um abraço, um beijo, um carinho na mão?
E eu espero que todos consigam abraçar seus amores outra vez assim que essa quarentena acabar porque o melhor da vida sempre caberá dentro um abraço!