o meu pesar.
Eu carrego um mundo inteiro nas costas.
Eu carrego o meu peso e minhas dores.
Eu sinto e amplifico o sentir quando algumas questões raciais me empalam no cotidiano.
Esqueceram de nos olhar e nos humanizar.
A mulher preta é sempre comparada uma a outra. Eu sempre me pareço a mãe, a ex, a amiga preta ou a irmã. Mas difícilmente, sou eu mesma. Difícilmente tiram as próprias dores da frente para que me acolham.
Sempre me pareço com outras mulheres pretas que gritam e batem na mesa pra dizer: “eu cheguei aqui com muita dificuldade, respeite o caminho que eu trilhei.”
Sempre somos agrupada e colocada num lugar de “não me cobre, não sei existir assim”, “se comporte, você me incomoda querendo fazer barraco", “fulana é uma lady, né?”, “é difícil te desejar quando tua existência se assemelha a da minha mãe”.
A minha dor não dói mais que a tua. A minha dor não precisa de pedestal pra existir e nem de coroa de espinhos para me flagelar.
A minha existência é ferida, é uma chaga aberta que venho tentando cauterizar já que quando tentei costurar, o sangue escorreu entre a linha e a pele. É dor que lateja e marca toda e qualquer mulher preta como se fosse gado.
É barraqueira, é agressiva, não é amada porque preta é bom mesmo na cama, é grossa, precisa ensinar todo mundo sem levantar a voz, precisa se pacificar pra existir, precisa bater na mesa e atropelar todo mundo pra sobreviver, precisa pegar na mão do outro e ensinar os caminhos… É preta!
Nós carregamos o peso da existência uma da outra sem que a gente se conheça e exista uma possibilidade de se abraçar e nos cuidar. Nós carregamos o pesar do mundo umas das outras e somos colocadas enquanto iguais. Nós temos que, quase sempre, guardar e engolir toda a dor e o autoflagelo sem poder dividir com alguém que nos entenda e nos acolha sem julgamento. Não deveria existir o peso e o pesar do meu mundo quanto mais olhar para o lado e ver vários corpos cansados e violentados.
Para além de carregar o próprio mundo nas costas e ir dividindo o peso do mundo de outras mulheres pretas, somos convocadas a fazer papel materno de todo e qualquer ser humano… Se não vira a preta insensível que só pensa nas próprias dores e em como a sociedade está empenhada a nos trucidar e não a nos acolher para que juntemos os próprios cacos.
Eu não sou sua mãe, sua ex, sua amiga, sua conhecida, sua tia, sua prima, sua sei lá quem que também é preta e reflete as dificuldades psicossociais do racismo… Eu sou eu.
Eu sou eu tentando fazer malabarismo entre o meu pesar e o teu pesar. Eu sou eu tentando existir e me curar através do amor. Eu sou eu gritando, brigando e batendo no peito pra ocupar alguns lugares. Eu sou eu dentro e fora de casa. Eu sou eu tentando te humanizar. Eu sou eu tentando existir e não te ferir ou não de imobilizar. Eu sou eu tentando olhar o mundo através de uma ótica de cura através do aquilombamento.
Eu sou eu… Mulher preta ferida e cansada de lutar e que agora só quero derramar toda a dor do meu existir em lágrimas no meu travesseiro.