mu(dança).
Faz pouquíssimo tempo que aprendi a usar a raiva que sinto como combustível para as mudanças que eu quero ver e fazer acontecer.
Tem sido trabalhoso e é um exercício de prática diária. Sempre senti raiva demais com as injustiças do mundo, que eventualmente cutucam minhas feridas e meus conteúdos. Porém, eu decidi que se for pra mobilizar, que mobilize de outra forma. Ou que eu pelo menos, perceba que tem outras opções e que eu consiga enxergar outros caminhos.
Durante anos e anos, eu reforcei que sempre teria que dar conta de tudo e que eu tenho que ser suficiente o tempo todo. As coisas não mudaram, mas eu já percebi que funcionam com essa estrutura. E talvez, esse seja o passo inicial.
Durante o último ano eu mudei. E mudei muito! E cada uma das mudanças reflete e ilumina quem eu sou hoje.
É que mudar é uma dança. No início, eu achei que tudo que aconteceu e que eu precisava mudar, tinha sido tempo perdido e que eu precisava correr mais do que minhas pernas aguentavam… Aí, eu parei de correr e comecei dançar com o tempo… Compreendi que nada era falta de tempo ou que haveriam mil lacunas a serem preenchidas. Entendi que perder o tempo é ilusão. Não haviam lacunas temporais a serem preenchidas. Todo tempo gasto foi necessário. E, todo o tempo achei que tinha perdido e chorava por ele, é exatamente por cada um deles que me tornei e me torno a mulher que sou hoje, serei amanhã e depois. E depois. E depois. E depois…
Mudar é uma dança. Uma hora flui, outra hora piso no pé de quem tá dançando comigo e outra hora eu piso nos meus próprios pés e acho que não serve pra isso. Mas é treinando e buscando melhorar que consigo estar e ser cada vez melhor. E, depois mudar. E depois dançar. Dançar. Parar. Respirar. Dançar. Beber água. Pausa para terapia, que é o grande momento da reflexão de toda minha dança. E conversar com es amiges, eles também dançam comigo e muita das vezes nem sabem. E continuo dançando, que uma hora a mudança vem de forma sutil mas cheio de força como uma roda de samba. Pode vir em forma de jongo para que eu possa expressar minha dor através de movimentos ou avassaladora como um maracatu, onde há o momento ápice: a coroação de rainha da minha própria mu-dança.