minha relação com a não-monogamia.

neurose y palavras.
4 min readJun 23, 2021

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Me deparei com uma situação que me desestabilizou bastante e sei que parte dessa mobilização advém da condição menstrual que tô inserida agora.

Acredito que quem me lê aqui nesse espaço sabe que, me entendo enquanto não-monogâmica política e, tenho um companheiro. Se não sabia, tá sabendo agora.
Bom, acontece que ouvi umas coisas estranhas de alguém com quem eu flertava a algum tempo e fazia questão de fingir não saber que tenho um companheiro. Dita as palavras do imundo: "escondido é mais gostoso, né?".

O que é gostoso? Sustentar uma estrutura que nos adoece por pintar um padrão filme de comédia romântica e carimbar na nossa testa de que se não for exatamente igual não presta? Blindar numa redoma de idealização que você nasceu pra alguém e o alguém pra você? Ou mentir pra quem tu se relaciona pra que ela se sinta alguém excepcionalmente especial dentro de uma fantasia que você também finge fazer parte? Ou o gostoso é gozar num lugar que a monogamia te bota enquanto a única pessoa que fará aquele outro feliz?

Ah, Yanka, tá criticando a monogamia? Tô e, também tô criticando a atitude da galera que vem encher o meu saco com isso.
Às vezes, tenho muito medo de ser pedante e por isso, sempre tô na minha e nunca falo sobre quando eu não sei se é um terreno seguro para me abrir. Cansadíssima de ser chamada de corna gourmet em tom de piada ou ouvir que você "não conseguiria".
Voltar a ser monogâmica não faz o menor sentido pra mim, nem pra mulher que me tornei. Também nem faz o menor dos sentidos "converter" alguém à não-monogamia. Essa não é e nunca foi minha intenção.

Quem foi que te ensinou a querer ser o centro da vida de alguém? Quem foi que te ensinou que tu só pode amar uma pessoa por vez? Ou tu não tem amiges nem família que consegue amar todes ao mesmo tempo sem dar pane no teu sistema? Você nunca parou pra se perguntar como é possível amar vários amiges ao mesmo tempo mas não se sentir capaz de se envolver afetivo-sexualmente com mais alguém?
E, por que não?

Em vários momentos dessa existência nos foi ensinado que deveríamos ter alguém com quem compartilhar uma casa, um carro, ter um trabalho que ganhe dinheiro o suficiente pra se manter e viajar 2 vezes no ano, ter 2 filhos e um cachorro. Quem foi que escreveu esse script e nos empurrou goela à baixo? Você nunca se perguntou se esse modelo relacional monogâmico que é seguido hegemonicamente te traz algum adoecimento psíquico?

Existem vários textos que me fizeram refletir e buscar caminhos que me levaram ao que estou hoje. Talvez, a principal delas é que nunca quis alguém controlando o que eu sentia e como sentia por outra pessoa para além dela. Ou também por não admitir em momento algum dessa vida que eu deveria escolher uma só pessoa no mundo para me relacionar afetivo-sexualmente. E por que não, me abrir para aos vários tipos de relações existentes? Porque não experimentar a delícia e a complexidade de cada relação sem precisar cercear o que eu sinto?

A não-monogamia não é só sobre quantos parceires afetivo-sexuais nós podemos ter, é sobre romper com o amor romântico e as mudanças de estruturas relacionais. É sobre buscar relações justas, igualitárias e horizontais que nos faça produzir autonomia. É sobre deixar de amar as expectativas que criamos do outro e amar a pessoa real, que passa por processos constantes de mudanças, que erram e que são complexos dentro da própria existência. É sobre amar pessoas de verdade.

Eu escolhi ser não-monogâmica política por não ser algo que compactue com tudo que eu mais critico nessa vida: colonialismo e o capitalismo. Por ser contra-hegemônica na complexidade da minha existência. Por estar cansada de ser violentada dia após dia e pôr isso dentro da caixinha da normalidade e, ver que todos fazem a mesma coisa com naturalidade e sem questionamentos.

Aprendi com Geni Núñez a não aceitar que territorializem meu corpo, a construção artesanal dos afetos, sobre construir relações saudáveis que produzam autonomia. Também aprendi sobre o poder que a descolonização tem na vida de quem corre por esse lado. Não é fácil e ninguém nunca disse que seria, mas tem sido a melhor forma de viver no lado do amor, em junção com os afetamentos da vida.

Não existe coisa mais bonita nessa vida do que criar vínculos e tecer minha rede de afeto com a singularidade de cada ser que me atravessa. Construir com respeito e sem cerceamento de desejo e querer alheio. Nada mais lindo que buscar relações que produzam autonomia e que acreditem num amor que nós faça mais fortes e potentes mas nunca dependentes.

Amar é revolucionário.

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Written by neurose y palavras.

escrevo como quem manda cartas de amor.

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