medo.
“Tenho medo que você se esqueça, se canse e se vá.
Tenho medo que você encontre alguém que te faça perder as horas e os sentidos, mesmo que momentaneamente…
Tenho medo que você se acomode e me ache ultrapassada, caída, antiquada. E sentindo tudo isso, você ache de depositar sua energia em alguém novo, inebriante e inquieto. Por estar acomodado que sempre estive aqui, você se esqueça de cuidar daqui também.
Tenho medo que você não volte pra dormir no meu abraço porque o outro encontra e cura onde o meu não alcança.
Tenho medo que você se acostume e meu olhar passe despercebido pelo teu.
Tenho medo que o banho de rio, as horas perdidas sentados na praça conversando, os cremes de cupuaçu divididos ganhem outra personagem.
Tenho medo que seu coração acelere e descompasse por outro riso e o meu caia nas profundezas do teu esquecimento.
Tenho medo que nosso estranho amor passe a ser estranho aos olhos meu e teu, não mais aos olhos de fora.
Tenho medo da cama não ser mais nossa, de que meus ouvidos deixem de ouvir que o melhor momento do dia é o que nós estamos deitados bem agarradinhos antes de dormir.
Tenho medo que tua boca, teu sexo e teu desejo não procurem mais a mim.
Tenho medo que você se esqueça dos caminhos que trilhamos, das histórias em que vivemos juntos, das construções difíceis nesses quase 2 anos juntos, se percam e se ofusque com a chegada de outro cabelo, riso, pele e boca.
Agora me sinto insegura, enciumada, deixada e largada.
No fundo, eu sei que não é assim que as coisas funcionam, se desenham e se encontram, mas é como eu me sinto quando você me põe nesse lugar de descentralização. Eu sinto vontade de chorar e me esconder, mas antes te perguntar por que precisa ser assim?
Buscar a libertação de amarras coloniais dói tanto que já me questionei muito se isso tudo serve pra mim. Ser empurrada e jogada para fora da zona de conforto dói tanto que para de correr sangue nas minhas veias e rios de lava tomam espaço.
E ao mesmo tempo que sinto tudo isso, eu jamais teria coragem de roubar/limitar tua liberdade, não quero que você corresponda as minhas expectativas ou que se comporte para me agradar, não quero fazer escolhas por você e nem quero que você as faça por mim e se isso tiver prestes a acontecer, eu saio e não volto mais.”
Sei que tudo que foi escrito aqui em um momento de muita angústia, não precisa ser dessa forma. Não é sobre fazer a troca de alguém, isso é coisa da monogamia. A grande questão é que teorizar a não-monogamia e viver é completamente distinto. Hoje, tenho certeza que não será troca, será transbordamento daquilo que já somos com outres. Gosto muito de um texto que fala sobre pessoas serem chaves para abrir lugares diferentes no outro. Nenhume tomará o lugar de outre porque toda relação é única, sagrada e singular.
O amor não é sobre trocar ou deixar de lado. É sobre dividir, emancipar e acolher cada ser dentro da sua singularidade. Que aprendamos a dividir e reflorestar o amor e, não repetir os padrões de racionar e muito menos colonizar aquilo que vem para nos potencializar.