neurose y palavras.
3 min readApr 5, 2021

liberdade.

O maior paradoxo que presencio em 24 anos de vida é estar buscando e exercendo liberdade em meio a uma pandemia.

Tem sido interessante e desesperador ao mesmo tempo e na mesma proporção. Hoje, tenho a possibilidade de experienciar a liberdade em uma relação afetivo-sexual mas não tenho a liberdade física. Já dizia Lacan, a gente só deseja aquilo que falta.

A tendência foi passar a olhar o meu canto de refúgio, de paz e de descanso enquanto encarceramento com pitadas sutis de desespero e choro constante. Focault estaria feliz ao saber que o que ele deixou escrito está dentro da casa de todo ser humano que está seguindo a quarentena.

Apesar desse sentimento, sinto-me privilegiada ao morar em uma casa com quintal lindo, com vista para uma parcela da imensidão do céu, com pássaros cantando e o sol invadindo cada milímetro do lugar em que chamo de lar. Estou em lockdengo com meu companheiro e nada nesse mundo pode pagar a sensação de paz e lar que é dormir naquele abraço. Nada é mais satisfatório que poder potencializar o laço mãe-filha-amigas com a Luna. E é nisso que me apego para não passar olhar como uma prisão 100% do tempo.

Nada paga essa experiência extraordinária que se dá nessa época de pandemia. E, que talvez, não fosse possível se as coisas não estivessem tomado este rumo.

Mas o desespero que bate na porta todos os dias é saber que estamos sendo pressionados a todo instante pela morte. Seja ela por covid, por fome, por hospitais colapsados, racismo, LGBTfobia e má gestão governamental. Tem sido desesperador sair na rua e parar de contar na 11° pessoa que passa por mim, sem máscara.

Porra, vocês estão vivendo no mesmo mundo que eu? Vocês estão sabendo que tá morrendo cerca de 3 mil pessoas/dia? Vocês tão ligados que para além de morrer por covid, tem gente morrendo por outras coisas por que não tem hospital? Essas atitudes e outras tantas que não respeitam a vida, tem sido o escancaramento do esgoto à céu aberto que a humanidade está afundada desde que o mundo é mundo.

Me sinto violentada e tenho certeza, olhando para o Maurício exausto ao chegar do hospital, que ele também se sente violentado, desrespeitado e muito cansado disso tudo. Apesar dele preferir o silêncio na maioria das vezes quando eu pergunto como foi o dia.

O plano desse texto era falar sobre exercer a liberdade dentro de uma relação e não poder exercer ela fisicamente… Abraçando meus amigos, saindo de casa pra ver minha família sem medo de levar doença, sair para tomar um banho de rio sem que tenha um decreto me proibindo, sair sem máscara de casa e poder sentir o vento na cara sem empecilho, sair para fazer mercado e não ter medo de adoecer, que minha filha vá a escola e volte com um sorriso escancarado no rostinho porque ela terá uma amiga… Dentre tantas e tantas coisas que me faria existir sem esforço para me manter sã.

As afetações em que a sociedade estará exposta após a pandemia são incontáveis. Enfretaremos tempos difíceis e mais intensos quando voltarmos ao convívio em sociedade.

Mas acabou virando um desabafo de desespero pedindo pelo amor de quem vocês acreditarem, fiquem em casa e se cuidem para que a gente possa se amar e se tocar sem sentir que estamos transgredindo, só porque desejou abraçar alguém e abraçou.

Por favor, se cuide.

neurose y palavras.
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Written by neurose y palavras.

escrevo como quem manda cartas de amor.

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