eu me vejo.
passei a me enxergar!
apesar de evitar me olhar no espelho e ver a cara cansada de uma mulher adulta com dores crônicas, olheiras arroxeadas e um desespero no fundo dos olhos, eu passei a me enxergar.
me olhar com afeto, com respeito, carinho, amor e paciência que sempre olhei para os outros.
era difícil olhar a mim com esses olhos que vejo o Outro.
dessa vez, foram 24 dias de dor, sofrimento, exaustão e complexidade da minha vivência agostina, que há 10 anos não são fáceis.
consegui administrar o caos cotidiano de uma crise, o medo estarrecedor de que ‘é cíclico e eu não aguento mais’ se transformar em pulsão de vida, vontade de viver e de me cuidar.
me olhei com carinho pela primeira vez, me apropriei daquilo que soul, daquilo que passou a fazer parte dessa vivência humana. foi respirando fundo, pedindo ajuda mas principalmente confiando nos meus guias.
houve muito cansaço, vontade de desistir, mas em nome do meu olhar sob mim, me sentei e repousei os olhos cansados do espelho no desejo de ‘e depois da dor e do cansaço tem o que?’, enxerguei que tem vida e, eu quero ela!
me abracei, me respeitei, me amei e (re)entendi que a vivência disso aqui é no meu tempo. apesar do caos cotidiano, consegui pela primeira vez encontrar a beleza em meio ao caos renal e, a beleza sou eu e meus esforços de me manter de pé!
me apropriei de mim e fui. engatinhando no chão e tateando tudo aquilo que já aprendi e conquistei. reunindo força, estratégia e ferramentas para me reerguer (mais outra vez!) da devastação que é uma crise longa.
pela primeira vez, encontrei sem muito esforço os brotinhos (re)nascendo do meu reflorestamento. e, eu não consegui sozinha. cada brotinho desse partiu da água, do afeto, da atenção, dos ouvidos, do encontro e reencontro, do abraço, do sorriso dos que estão com a mão estendida para mim.
e, pela primeira vez em 8 anos, abracei meu diagnóstico e chorei muito conseguindo ver vida depois da dor. descobri que vai continuar tendo anseios temperados com receios, paranoias e outras dúvidas (salve Los Porongas!), mas que eu tô sabendo o que fazer.
e, depois de tantos e tantos encontros terapêuticos que rodaram num ‘eu não consigo’, hoje eu falei incontáveis vezes ‘ta indo, tô conseguindo…’
bem, eu tô conseguindo, finalmente me abraçar, me enxergar com carinho, atenção e afeto sendo uma pessoa que carrega o peso de um diagnóstico. e, entendi que eu sou bem mais do que ele, mas que eu também sou com ele!
Um salve à todes aqueles que fizeram esse ciclo menos insano e mais afetuoso!
Salve, Eliane! Salve, Luna! Salve, mamãe! Salve, paizinho! Salve, Dudu! Salve, Arthur! Salve, Xodengo! Salve, Tácia! Salve, Aline! Salve, Raquel! Salve, Álvaro! Salve, Ramon! Salve, Priscila! Salve, Douglas! Salve, Juliana! Salve, Adriele! Salve, as entidades! Salve, Daniel! Salve, Alexandre! Salve à todes que estiveram/estão ao meu ladinho! ❤️
ATOTÔ BABÁ OMOLU!