desabafo da quarentena #1.
Dia 17 da quarentena:
Furei a quarentena na terça usei a desculpa de ir comprar pão porque sabia que se não saísse entraria em uma crise ansiosa onde iria ruir toda a estrutura que criei durante o último ano, em uma luta diária onde eu caí e me reergui diversas vezes.
Ontem eu furei a quarentena de novo, duas vezes.
Creio que seja a busca de me sentir viva outra vez. A velha questão da autoafirmação, de querer ser reconhecida e se escutada.
Essas dias em casa me fizeram entrar em contato com as questões mais difíceis e que eu posterguei por um muito tempo…
A mais latente era o enfrentamento da minha solidão.
Talvez convidá-la para sentar ao meu lado e dialogarmos pacificamente seria o mais prudente e o mais interessante. Entretanto, se tornou inconsciente buscar aquilo que dói e eu fui provocada para pensar sobre ela e como lido com ela, nesse isolamento social. Nos primeiros 7 dias, eu tive ideações suicidas com uma frequência branda porém doloridas, mas eu segurei a barra como jamais achei que sustentaria enfiada dentro de caaa.
Não estou sabendo lidar com nada do que sinto, do que penso e muito menos, com a bagunça que está a minha cabeça.
Tenho o acalento do Mau quase todos os dias e de certa forma, isso aquece e acalma meu coração.
Dia 32 da quarentena:
Perdi as contas de quantas vezes arrumei motivos para sair de casa porque senti que iria surtar de vez.
A potência da neurose com esse vírus, toda vez bate com força porque os casos só aumentam e eu sei que as coisas irão colapsar o mais rápido que as pessoas imaginam…
Semana que vem começam as provas e até hoje eu não tive cabeça nem vontade de sentar em frente ao computador para me dedicar ao meu único plano futuro, me saboto e morro entalada com a culpa atravessada na garganta.
Todos nós aqui em casa resolvemos modificar a rotina para uma espécie de férias para que não entrassemos em colapso todos juntos e que fosse mais confortável de suportar os dias que parecem intermináveis…
Hoje, estou sabendo lidar melhor e aos poucos estou aprendendo a entender o que sinto e porque sinto. Compreendi que se não fosse assim, daria pane no meu sistema com mais frequência e cada vez mais intensas…
Consegui desbloquear meu canal da escrita e vi minha evolução na análise na última sessão, então sinto-me mais tranquila e um pouco mais segura de mim mesma.
Os casos de vírus estão mais frequentes e em volumes maiores. Eu e o Mau tivemos a conversa que eu mais temia: chegou a hora de quarentenar cada um no seu canto. Eu sei que é mais seguro e mais prudente por estar inclusa no grupo de risco e ter crianças em casa, mas fazer/ganhar carinho até adormecemos juntos (ou até o horário dele partir) tem sido o aquecimento do meu coração durante todos os dias, principalmente dos dias mais difíceis.
Hoje ele voltou para casa após outra noite dormida aqui e ter passado o dia comigo. Só tenho a agradecer, mas toda vez que ele sai pelo portão meu coração aperta e só consigo pedir para que a Deusa o proteja e o guarde durante a chegada em casa e amanhã durante o plantão no hospital…
É necessário nos afastar para nos abraçarmos com tranquilidade daqui um tempo.