costura-se.
costura-se afeto, lar, pedaços, caminhos
costuro caminhos e reencontros de mim e de ti
costurei lugares e os preguei em mim como se nunca mais fossem descosturar e aí descobri que (des)costuro não-lugares
perdi botões, linhas, agulhas, amores e pedaços de mim
fui encontrando linhas de cores diferentes, carinho, felicidade, outras agulhas, botões variados e amores
fui aprendendo a tecer redes, mantas, colchas e cortinas
fui guardando cada retalho de afeto que encontrei nessa estrada de auto-costura
fui costurando com lágrimas, suor e angústia até entender que não eram os afetos que me faziam sofrer, era a falta de humanidade das pessoas e das relações
costuro dia após dia a análise e associação livre que vão surgindo e colando por aqui… alguns pedaços dou só um pontinho porque sei que logo se soltarão e outros eu costuro com linha de pesca e bordo com fios de ouro
aqui eu costuro e descosturo pedaços de mim e dos que passam e deixam em mim suas digitais e peculiaridades
aqui eu abro os caminhos empunhando força, linha, agulha, afetos, leveza e pesar… não há como dizer que não costuro tristeza e angústia, elas também fazem parte da estrada da vida e difícil mesmo é ver quem joga os sentimentos ambíguos em baixo do tapetinho do inconsciente. e, quando a poeira levanta te deixa atordoade e te faz pensar: “ei, o que foi que eu costurei esse tempo todo aqui e quais tipos de costura e linhas que usei? quem são essas pessoas aqui? quem sou eu?”
hora de costurar e descosturar o que (re)descobrir.
texto inspirado na conversa de Karol Conká e Maria Homem sobre saúde mental.