como se lida com uma quarentena e tudo que ela te proporciona?

não estou sabendo lidar com o isolamento social e com todas as sensações e sentimentos que andaram aparecendo em mim até o presente dia.

a maioria das vezes sinto vontade de estar sozinha mesmo sabendo que é impossível pelo contexto que estou inserida, mas ando tão entulhada de pensamentos e me perco neles que a maioria das vezes eu me sinto só e acabo não ouvindo o que ninguém fala perto de mim.

ontem meu namorado esteve aqui e eu não conseguia me concentrar em estar presente, mas necessitava de um colo.

eu comecei a pensar, repensar e pensar mais um pouco que colo era esse e vi que é o meu próprio colo e que ando angustiada atrás dele.

no início do isolamento social, eu decidi testar a modalidade de terapia online eu não curti e não pretendo seguir atendendo nessa modalidade quando eu me formar, porém é algo que se tornou fundamental no meu processo de tatear os lugares que eu não fazia ideia que existiam em mim durante a pandemia.

confesso que visitar esses locais tem sido absurdamente doloroso e quanto mais passeio por eles, mais coisas eu descubro e mais dores aparecem. em momento algum eu pensei que fazer análise fosse fácil, mas sinceramente, não fazia ideia da dimensão de como os meus traumas me travam de avançar.

recutucar feridas que eu tinha toda convicção do mundo que já estavam cicatrizadas e tomar ciência de que só agora eu tenho dimensão de um pouco do estrago feito por aqui… e sinceramente? tá foda de sustentar!

por vezes eu já pensei em desistir do processo terapêutico e voltei a querer desistir da vida também, me queixando sempre que é foda crescer e pensando no quão de fuga e regressão estão presentes nesses pensamentos.

eu tô exausta de ter que me enfrentar e lidar comigo mesma, porém que sei que pra chegar no único objetivo que tenho nessa vida, é preciso atravessar esse caminho doloroso para que eu me entenda e parece de repetir os mesmos ciclos.

o pior é não conseguir ler um livro, não conseguir pintar, desenhar ou fazer qualquer outra coisa que me tire desse limbo… pelo menos, dei graças a deusa que meu canal da escrita foi desbloqueado a duas semanas e venho conseguido esvaziar além dos 50 minutos da análise.

pela primeira vez em quase um mês dentro de casa, eu tomei um banho de chuva com as crianças… eu ri, pulei nas poças de água que se formam na calçada e vi um pingo de esperança e de felicidade no meio de todos esse caos interno e externo…

sentir os pingos da chuva arrepiando minha pele me fez querer estar mais viva do que nunca e mais disposta a enfrentar todos os meus monstros internos. eu agradeci a Mãe Gaia por esse presente vindo dos céus e a chuva tem o poder de me renovar e me fazer querer continuar. veio no momento certo, como tantas outras coisas que já vieram nessa quarentena. continuo na autossabotagem pesada que não me deixa enxergar além da angústia e da impotência de sanar tudo que sinto… mas pela primeira vez, ontem me senti capaz de ver além dessa tempestade que me assola.

“é preciso entender que existem outros caminhos além do caminho da dor, yanka…”