a borda do meu amor.
várias vezes me perguntei onde seriam as bordas dos sentimentos e das emoções e devaneei por horas sobre o que seria a borda.
e outras vezes me perguntei se existem mesmo as bordas de cada sentimento e emoção.
é, sempre fui alguém que pensa e pergunta demais.
comecei a avaliar sobre as minhas bordas e em análise descobri, reconheci que acessei a borda do meu precipício. foi interessante, mas muito dolorido chegar até lá ver que existe contorno, vi as flores que plantei naquele enlace e descobrir que poderia voltar lá qualquer momento sem que eu precise estar inebriada para descobrir o que há no fundo daquela escuridão, se é que há um fundo…
passada a descoberta da borda do sofrimento, comecei a me perguntar se o amor também tem bordas e como elas seriam… a conclusão que cheguei com meus botões depois de refletir alguns diálogos que tive é que a borda do meu amor são meus limites. quando nós amamos alguém e esse sentimento já passou da fase da paixão, a gente começa a enxergar quem amamos após a primeira decepção e, geralmente, se esperta pra algumas coisas que a paixão mascara. afinal, com a paixão cria-se o véu da idealização e o furo dessa bolha vem com a decepção e toda sua realidade permeando os espaços do teu amor.
as bordas do amor surgem quando começamos a observar aquilo que nós não queremos mais. o véu é arrancados dos olhos e começamos a nos questionar o que fez e o que não faz mais sentido. acredito que o neurótico consiste em ter medo de se arrepender ao apresentar seus limites e ter medo de não ter do que se arrepender quando apresenta seus limites sob o amor que deseja receber a partir de agora, porque pessoas se vão e nascem incontáveis angústias, afinal… de que se alimentam os neuróticos se não de angústias?
enfeitar os caminhos da borda do amor com flores é algo solitário apesar de não estar só. mesmo sendo amada e cuidada por outros, o objeto de desejo jamais será alcançado e todo bom neurótico consciente sabe disso. o que importa é o caminho que se faz até a borda? o que importa é levantar questionamentos sobre si? o que importa é buscar a consciência de seu próprio amor? ou é preciso apenas respirar e transformar todo o foco de amor e dedicação que você oferece a alguéns para si mesmo no processo de redescobrir quem se é?
jamais terei certeza em qualquer resposta as minhas perguntas concebidas dentro de angústias da pressão que ponho sob mim mesma quando mergulho fundo em mim em um domingo frio, enquanto tento tatear algum caminho imersa na escuridão dos meus pensamentos.
algumas coisas estão bem iluminadas enquanto outras seguem no seu completo escuro e, essa noite, testemunhei a morte da adolescente enquanto buscava respostas para perguntas que ainda nem sei se tenho como fazê-las. ao buscar as bordas do amor, me deparei com a grande loucura que é a ambiguidade dos sentimentos e das emoções. ao mesmo tempo que estou feliz, estou triste. ao mesmo tempo que tenho uma grande segurança do que desejo, tenho medo em como serão as coisas quando eu continuar bancando o querer.
estou nesse mundo para descobrir quem sou e não responder todas as perguntas que pairam sob minha cabeça, correndo o grande risco de adoecer com toda a pressão que as neuroses me invadem constantemente. fato é, tenho muito medo de como será viver a partir do amor. e, olha que não estou mais falando sobre o amor que sinto pelos outros… estou falando sobre o amor que preciso dar a mim mesma. isso é devaneio para outra hora agora estou ocupada buscando sepultar a adolescente que quase morreu esmagada por seu desejo de amar e de ser reconhecida.
quando será que permitirei parir a mulher adulta? ela que (re)descobriu que o amor pode ser leve e conversar por horas enquanto passa-se um café, divide-se angústias enquanto escuta-se a falar sobre quem se tornou ao amar perdidamente com sua jovem adolescente abandonada grávida.
o maior choque foi descobrir que essa centelha de mulher que apareceu em alguns dias, fez alguém se inebriar pelas possibilidades remotas do que ela pode ser. ao mesmo tempo que o potencial de crescimento é fascinante, ele dá medo… eu sabia que já gestava essa mulher há anos, já sabia que ela iria rasgar a placenta na unha quando a dor sumisse.
a dor sumiu e as dores desse parto começaram a se intensificar… como uma boa histérica, minha lombar tem me matado nesses dias de caos e angústia.
agora, preciso de força para pôr essa mulher no mundo e descobrir quais serão os novos caminhos que ela irá traçar. por hora, o preparo do sepultamento da adolescente que ainda agoniza tem tomado meu peito e meus olhos porque ela não deseja abrir mão do seu grande amor que já não a enxerga mais, só consegue ver dor e angústia quando dirige seu olhar a ela. e ela chora por horas durante as dores do parto que voltam enquanto a mulher grita querendo romper a fantasia para pousar na realidade
eu e ela sabemos é preciso morrer para (re)nascer.