Iobancar-a-si

neurose y palavras.
3 min readOct 29, 2024

--

dia desses, numa conversa com um amigo querido disse que me custava muito estar questionando se ainda fazia sentido o namoro em si… e vi um algo surgir em seus olhos que, talvez, não tenha sido verbalizado.

bem, depois de uma noite de um afeto que ainda busca seus caminhos onde teve pernas entrelaçadas e nariz enfiado em meus cabelos e um sono violentamente confortável, me perguntei a quantas anda esse pensamento, mas só consegui tentar listar o quanto custa me bancar e o quanto a armadilha da monogamia está posta diariamente precisando fazer um check-up quase que manual para ver se as estruturas estão firmes. pô, mas logo eu me fazer esse questionamento depois de tudo que eu passei? depois de tudo que abri mão pra ser uma mulher não-monogâmica?

às vezes, esqueço que preciso pegar leve comigo e dar pequenos passos. me sinto profundamente estagnada, mas aí já aprendi a observar o entorno para colocar as coisas em seu devido lugar. eu nunca estive estagnada, tenho me movimentado tanto e aprendido tantas coisas nos últimos meses que seria cruel comigo dizer que finquei os pés em um só lugar. tenho me movimentado tanto que já virou rotina e aí é mais outro processo de ter paciência comigo mesma.

tenho me perguntado muito quanto tem custado me bancar e isso não é um espaço ou dúvida para querer voltar atrás. é procurar saber mesmo sobre as entranhas custosas daquilo que me tornei. tenho retornado pra mim numa versão completamente diferente do que fui há poucos meses, parece que me perco de mim mesma eventualmente. rola um vácuo entre o que eu fui e o que me tornei e me encontro no meio dos dois… talvez, a pergunta seja, para onde eu quero ir, né?!

tenho entendido quais são as faltas que preciso olhar com cuidado e zelar o entorno dela para que não se tornem buracos que crescem conforme a demanda. entender sobre a elaboração de um luto que já vinha sido vivenciado porque tinham partes minhas que já estavam mortas há tempos e agora elas recomeçaram a respirar e o questionamento válido é sobre: saudades de uma relação que nem tudo foi ruim, mas o suficiente me fez sofrer demais ou é o processo de saudade de ter pelo que sofrer e pelas sequências de violências silenciosas? porque há naturalidade no sofrimento dramatizado de uma histérica, né?

quando me pego carente ansiando por me humilhar por migalhas, respiro fundo e me pergunto: quanto custou ser a mulher que eu sou hoje e quando me custará retornar as violências que já conheço? prosseguir em violências não tem sido meu foco, tudo que eu puder fazer para tornar minha existência mais leve, eu farei. meu foco tem sido observar essas violências e não permitir ser tomada por elas novamente em novos personagens vestido em roupas velhas.

me lembro bem do conselho de Bará: a paixão poderá ser sua ruína.
onde pergunto quais são os níveis de grandeza da carência, porque ela é bem traiçoeira e eu não crio cobra pra me picar. tenho mantido ela em rédeas curtas para que seu abraço de cobra não me faça sufocar na mesma falácia de sempre. na minha e na dos outros.

me bancar tem me levado à outros lugares de questionamento e não tenho me desesperado, mas tenho sentido muita saudade de ser amada e cuidada no sentido de carinhos e presença, sabe? só que dessa vez para ter isso cotidianamente, eu não darei em trocar tudo que é meu. quero ser amada e cuidada mas sem dívidas e nem sob troca da minha liberdade de existir. quem me amar a partir de agora saiba não haverão possibilidades de negociação para abrir mão de mim para cuidar do outro. ou nos cuidamos juntos dando as mãos ou ficarei na minha.

que os amores que me encontrem sejam 50/50 para que cada um dê contribua com sua parte e juntes equilibramos uma relação que seja 100, onde eu consiga ser nada mais do que eu mesma, sabendo que um dia sou carente no outro completa e suficiente mas eu quero amores correspondentes pra testemunhar e quando eu alçar os voos mais bonitos da minha vida eu saberei com muita força que serei chamada de amor, de gostosa e de querida. e, que quando eu chegar em casa a joia rara estará polida e seremos o pseudofruto e a pele do caju. porque eu já sei o meu valor e o quanto custa ser a mulher que eu me tornei.

--

--

neurose y palavras.
neurose y palavras.

Written by neurose y palavras.

escrevo como quem manda cartas de amor.

No responses yet