apaga isso aí…
Eu sempre tô escrevendo por aqui… Devolutivas da terapia que explodiram a minha cabeça, diálogos que poderiam ter tido respostas mais concretas e palpáveis, alguma reflexão que anda tirando minha atenção para realizar outras tarefas… Eu sempre estou tentando reorganizar as coisas que flutuam na minha cabeça.
Bom, acontece que faz algum tempo que venho tentando me movimentar diferente: pensa, repensa, repensa, repensa e reorganiza. Num passe de gastar energia demais, as coisas começam a fazer sentido. Sem que eu precise recorrer a escrita… E foram muitas sessões de terapia pra conseguir compreender que eu consigo achar outras formas de me reorganizar. Passei um longo período precisando falar pra outres como eu me sentia pra poder me ouvir e não me ouvia. Comecei o processo terapêutico, ou melhor, tentei… Faço terapia a quase 3 anos e só sinto que tive uma larga escala de evolução e de elaborações no último ano. Depois eu comecei a retomar a escrita… Escrevia mais do que minha cabeça suportava pensar e geralmente acabavam em inúmeros quadrados, casinhas e flores riscados pela folha do caderno.
A autocrítica sempre bate pesado quando se trata de publicar as coisas em que eu me proponho a postar por aqui. Geralmente, os textos acabam encalhados fazendo companhias para os outros que já estão por aqui a algum tempo. E costumo pensar que se fosse arquivo físico, estariam carregado de poeiras e bolor. E hoje, eu resolvi fazer o limpa mensal das coisas escritas por aqui e abandonadas pelo arquivo.
Apaguei muita coisa incompleta. Talvez, já estivesse completo e vívido da forma como era possível a existência de cada escrita minha… Mas não deu, caíram no esquecimento digital. E comentei com uma amiga sobre apagar os textos e ela disse que na maioria das vezes também apaga o que ela escreve.
Esse diálogo me jogou diretamente a um sessão de terapia em que eu chorei copiosamente por querer me livrar de tudo que eu já fui um dia. Comecei desenterrando algumas coisas que me machucavam e eu não fazia ideia da dimensão das feridas quando comecei a ouvir todas as palavras doloridas que saíram da minha boca naquela tarde.
Eu disse que queria enterrar a Yanka que eu fui quando adolescente, queria jogar fora tudo que eu já fui um dia. Queria me desfazer de tudo… Mas no fundo, eu sabia que era impossível, sabia que o que precisava ser feito era chorar todo aquele luto e aprender a lidar com ele: entender que eu fiz o que foi possível com tudo que eu era naquela época que eu quis enterrar.
Qual é a lógica de todo esse falatório e correlacionar com os textos apagados? A sensação que eu tive ao apagar o último texto foi:
Por que eu continuo querendo apagar partes de mim?
Penso que, eu poderia ter elaborado tudo aquilo que já foi escrito em momentos de pura mobilização. Sim, eu só consigo escrever quando estou extremamente mobilizada por algo… Eu sigo tentando ressignificar e mudar a estratégia já que ando conseguindo reorganizar as ideias de outras formas. Penso também que o desejo de apagar partes que me desagradam na minha história, estão por aqui para que eu possa olhar com outros olhos e ressignificar. Aprender a olhar de forma menos assertiva e acolher essas partes que eu tento apagar, consciente e inconscientemente.
No fundo, bem no fundinho, eu só quero mesmo é começar a olhar pra essas partes machucadas e reais sem querer chorar no primeiros momento e dizer: porra, olha só o quanto eu já evoluí nessa questão… tô correndo pelo certo. Olhar sem querer me apagar, só brilhar.