amar(elo).
cheguei na casa de paredes amarelas. o ritual de sempre. mochila no sofá da entrada, chinelos na porta enquanto observava brinquedos e pequenas sandálias pela casa. dava para ver que ali haviam muitos momentos de alegria e meu peito queimava numa brasa de fogueira que já queimou demais e agora amorna o restante do corpo. sem grosserias e nem queimaduras, só um calor confortável.
escolhi o sofá de sempre pra sentar e fazer a grande pergunta: “e aí, como você está hoje?” e me perguntei quantas histórias já não foram contadas naqueles sofás e sorri docemente enquanto pensava que naquele momento iniciaria mais uma história cotidiana no meio de tantas outras... tenho estranhado como me sinto confortável e resolvi não me questionar, somente viver o aqui-agora.
naqueles sofás e nas palavras-ditas consigo acessar que o novo e com os ouvidos mais amadurecidos o que importa é estar tranquila, leve e ter meus limites respeitados, mas ao mesmo tempo me sinto abertíssima ao novo sem temer o que pode haver atrás da porta. bebo a água lentamente enquanto o vejo devanear sobre si e sua cria e dou risada. acho lindo os olhos brilhando e a doçura de suas expressões e me delicio ao escutar.
ele me vê ficar calada enquanto fala, porém eu só estou observando e me dando conta do quanto gosto de ver aquele homem falando sobre si, seus planos, seus desejos, suas movimentações… isso é o que tem me inebriado, a sua movimentação e a minha possibilidade de ser espectadora. e enquanto fala sobre seus movimentos e acontecimentos, me faz pensar sobre aquilo que tenho desejado e quais as próximas movimentações que teremos em dupla. pois bem, ele se senta do meu lado e diz: “eu não te chamei aqui pra ficar falando…” e me desmonta quando sua mão pousa firmemente na minha nuca, a outra na minha coxa, ele olha nos meus olhos, sorri e me beija com desejo. meu corpo é invadido por uma onda de prazer que nem tento mais explicar, só consigo sentir.
gosto como ele não tem pressa nenhuma de me tocar, de me olhar, de tirar peça por peça que insista em cobrir meu corpo. é observando cada expressão de prazer e de desejo que ele me percebe mulher. era exatamente o que sentia falta há tempos… ser vista, desejada e deliciada.
e as possibilidades das movimentações que necessito para me sentir viva, desabrocham com diálogos sobre projetos, sobre academia, sobre a vida e mas também sobre o cansaço do cotidiano… não dá pra fingir que o capitalismo não existe, né?! somos atravessados constantemente por essa máquina de moer gente, mas quando nos encontramos parece que tudo o que não vai fazer bem naqueles momentos juntos, não precisarão entrar pela porta e fazer companhia. estar entre as paredes amarelas rabiscadas por um inconsciente infantil faz com que haja um descolamento da realidade… quase como um furo na realidade que mói nossas cabeças para dar um alívio com afeto, tesão e carinho.
pois bem, não sei qual caminho tudo isso tomará, mas que tenho estado tão relaxada e quase nada reflexiva porque só tenho desejado sentir… quando o furo romper essa fantasia, eu lidarei porque agora eu só quero contar os próximos minutos desse (re)encontro.
texto escrito dia 05 de novembro de 2025, quando me dei conta que estava me apaixonando.