afetempo.
O melhor presente que posso dar aos meus afetos é o meu tempo.
Já pensei que o melhor presente que poderia dar as pessoas que eu gosto era ser útil em alguma medida, ou em todas elas pra ser mais exata. Depois de um longo processo para sair de dinâmicas de relações que se passavam por lugares utilitaristas, resolvi fechar essa porta e entender outros caminhos para dar e receber afeto.
Acho que uma das maiores dificuldade das pessoas hoje em dia é ter tempo. No geral, as pessoas não tem tempo ou muita paciência pra esperar na sociedade imediatista em que estamos incluídos. Não há tempo pra esperar a internet um pouco mais lenta carregar um vídeo. Não há tempo pra esperar numa fila de supermercado. Não há tempo pra esperar u amige terminar de se arrumar pra saírem juntes. Não há tempo pra sentar e tomar um café sem ter medo de “perder" a hora. Não há tempo de esquecer que há tempo para se gastar!
A gente cresce precisando cumprir horas. Quando bebê é hora de mamar, banhar e dormir. Quando cresce um pouco mais é hora de comer, hora de banhar, hora de ir à escola, hora de chegar em casa e tirar o uniforme, hora de assistir desenho, hora de brincar, hora de dormir. É a melhor época que existe porque só quem sabe das horas é o adulto, quando se é criança, o tempo é só nosso amigo. Quando adolesce a gente nem se lembra que tem hora quer conversar até acabar o assunto com es amiges, não quer voltar pra casa na hora estipulada e até finge que não viu a hora passar pra aproveitar mais um pouquinho a companhia daqueles que amamos tão visceralmente. Quando a gente adultece, esquece que já fez o tempo parar. Esquece que dormiu dentro de um relógio pra poder amar mais um pouquinho aqueles momentos tão preciosos da infância. Só pensa que não há tempo pra nada nunca. Precisa planejar todo e qualquer passo pra caber um abraço, um cafuné, um riso, uma lágrima.
E, eu resgatei o olhar lento nesse último ano. Po, a gente passa tanto tempo da vida preocupades se vai chegar na hora que se esquece de viver o presente.
Tem sempre um celular apontado na cara de alguém gravando quase tudo. Será que a gente perdeu o sabor que é viver os momentos preciosos sem precisar de uma virtualidade-alternativa pra suportar viver a realidade? Ou será que a gente guarda tudo na memória do celular por que se esquece eventualmente de tecer as conclusões de cada encontro? Ou será que a gente só tá viciado em não viver plenamente aquilo que mais desejamos quando estamos sozinhes e criando mil expectativas?
Sejam qual forem as respostas de cada pergunta dessas, sigo nesse lugar de me incomodar como a gente esquece de admirar o pequeno. Como a gente se esqueceu de parar pra olhar com cuidado os momentos, as pessoas, as vivências e nós mesmos?
O olhar lento que estamos demandando vem nos empalando com uma força brutal a tempos e ninguém parece se importar muito. A gente vai minando as próprias experiências quando paramos de caminhar com calma, com cuidado e paciência consigo e com us outres. Não julgo quem não consegue fazer esse movimento, eu só consigo desejar que consiga ir um pouco mais devagar pra ir observando o caminho.
O tempo é algo tão valioso e passa tão rápido! Um dia você é uma criança brincando no pula-pula da praça e no outro você já se encontra bolado sentado no sofá querendo fumar um cigarro na varanda tentando pensar em como faremos pra caber as contas do mês num salário mal pago. E o caminho que a gente trilhou do pula-pula até o cigarro? A gente realmente parou pra observar com calma ou só fingiu que viu por que não deu tempo nas 24h do dia?
Se é algo tão valioso por que não dar de presente pra quem amamos? Por que não validar um açaí seguido de um pôr-do-sol como presente de um dia de folga com alguém que gostamos? E por que não fazer do tempo e da leveza situações cotidianas para que viver nesse mundo caótico seja menos flagelo e mais afeto?
Ah, isso quer dizer que aquela frase clichê da internet, “quem quer dá um jeito” é real? É óbvio que não. Damos o tempo que queremos dar a quem queremos dar e ponto. Não adianta cobrar ou sufocar. Se o tempo é afeto, não daremos a qualquer um que se achar no direito de ter ou merecer.
A última vez que “perdi a hora", ganhei uma insolação braba. Passei algumas horas rindo e conversando com minha mãe. No CujubimLove, onde o tempo tem mania de se dilatar, falamos e rimos tanto que esquecemos que havia um sol rondoniense espocando a nossa moleira. Veio a insolação, perdi uma oportunidade de trabalho no dia seguinte por não aguentar vestir roupa, mas ganhei algo tão valioso que não há dinheiro no mundo que me desse. Me enlacei de um jeito único com ela. Ali de baixo de um sol nos deus 30 e tantos graus, minha mãe e eu, nos nutrimos de afeto esquecendo do tempo. E, ali eu ganhei tempo, risadas e história pra contar do lado de alguém que amo tanto.
Se nosso tempo é afeto, por que oferecemos correndo? Será que até o amar devagarinho foi deixado de lado?
O ponto que eu gostaria de chegar tecendo sobre o tempo e o afeto é como passei a amar devagarinho. Não tenho pressa nenhuma pra amar alguém e isso não quer dizer que eu demore pra dizer que amo. Pelo contrário, o amor passa tão devagarinho quase parando que virou algo levinho que nem toque de pluma que arrepia os pelinhos quando passa na pele. Se é levinho e devagar, preciso segurar quando explode no peito?
O amor tem sido algo tão leve e tão gostoso nos últimos tempos que ando comparando com as primeiras mexidas do bebê dentro da gente. É similar a bolhas de sabão estourando, só que dentro da barriga. Dá uma cócega besta e uma emoção tão grande que dá vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. É só uma questão de tempo pra começar a sentir mexer com mais intensidade. O amor também pode ser gestado e parido e, não estou falando de gravidez.
O tempo também tem função de curar. Porém, pra ele começar a curar a gente precisa olhar pro lugar que precisa ser cuidado. Aprendi com Luedji Luna que o amor é coisa que mói muximba e o mesmo que faz curar. Na mesma intensidade que o tempo cura, ele arrasta e arrasa nossas expectativa levando de voltar ao solo porque também é sobre espera e compreendimento de si e do outro. Se o amor é capaz de moer muximba, qual será o mistério guardado a 7 chaves de que ele também é o mesmo que faz curar? Sei lá, né, se eu souber em algum momento, prometo que voltarei para escrever sobre.
A vida já é difícil demais para não darmos afeto para quem a gente gosta no tempo que nós temos disponíveis.
texto escrito em Maio de2023 e terminado em Fevereiro de 2025. às vezes, a gente precisa só da ação do tempo para aprender sobre o amor e sobre nós… MOJUBÁ!