a caixa do coração.

Foi preciso uma caixa cheia d’água e a imersão de metade do meu corpo para escutar o recado.

Foi preciso sentir saudade, angústia, a falta daquilo que achei deveria ser dado pelo Outro, correr dentro das privações para não despedaçar ninguém.

Precisei trilhar caminhos complexos e o transbordamento de muitas questões que não haverão respostas, talvez esse seja um dos grandes sentidos da vida: questionar tudo e, obter respostas de 1% de todas as perguntas.

Cavei, encontrei meus corpos já enterrados e exumados tantas e tantas vezes numa tentativa vã de ressurreição de mim para me culpar e me guilhotinar pela milionésima vez, até entender que eu não enterro a mim, eu elaboro e abraço todas as tentativas de ter sido a autenticidade de mim mesma em cada fase da vida.

Chorei tanto nos últimos anos, que seria capaz de encher 900 piscinas olímpicas, mas libertei toda dor que foi acumulada durantes todos os anos de vida.

Nesses 26 anos de vida, precisei aprender que não sou só dores e cicatrizes. Sou a possibilidade de (re)fazer caminhos e abrir trilhas no meio das floresta que me tornei. Às vezes, me perco nas trilhas mas procuro (re)encontrar o caminho de volta.

Entendi que me perco nos caminhos que penso que os outros achariam que seria bom para mim, me perco quase que todas as vezes que não me escuto, que não me pondero e que não me respeito.

Procurei o calor do sol, outros amores para além dos que já tenho, outras bocas para derramar meu desejo, outros sexos para partilhar meu tesão, outros carinhos, outras pontes sob o meu rio. Busquei dentro do meu lar outras portas para me fechar, outras encruzilhadas para escapar, mas me vi pertencendo e, finalmente pertencente. Pensei que fosse viver dentro um(dos) grande(s) amor(es) da vida que encontraria a mim e a minha felicidade. Pensei sim.

E, eu precisava mesmo era de uma caixa d’água num dia muito quente e entendiante em busca de suportar o calor que finalmente entendi o recado: eu preciso mesmo é ficar quietinha escutar meu coração. Independente do caos que esteja minha cabeça, meu coração saberá o que fazer. Minha reza com a vela acesa sabe e confia na guiança que surge.

É preciso estar atenta e forte para confiar no caminho do amor de si. É preciso estar aberta para entender que o silêncio é Orixá!