ação inspirada.

neurose y palavras.
6 min readJul 12, 2024

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sentada em seu trono, buscando ser imparcial enquanto empunha uma espada que corta dos dois lados em uma das mãos, assim nos mostra que é usando a lógica para resolver as demandas com justiça. na outra, ela carrega uma balança muito bem equilibrada. vestida em vermelho mostra a quem quiser ver seu pertencimento com o mundo material e suas incógnitas. em sua cabeça carrega uma coroa feita em ouro evidenciando que ela é justa, equilibrada e em sua mente carrega um grande poder.

buscando apontar caminhos para quem a encontra, ela mostra que o melhor de todos é ser fiel a si. sempre usando a lógica e o raciocínio deixando de lado a emoção, assim os problemas serão resolvidos e encontrará a reconciliação com um passado turbulento e desonesto. essa mulher, traz consigo a resolução, o equilíbrio, o alinhamento e a restauração com a vida espiritual.

e, se eu perguntasse olhando nos olhos dela o que fazer quando suplicava por um conselho? ela me diria para sair da ilha para ver a ilha?
perguntei e em momento algum ela baixou a espada ou desequilibrou sua balança, duramente me mandou buscar sempre ser justa e seguir dentro da conduta ética. ela disse que eu precisava tomar decisões muito racionais. o resto da vida. fechar um pouco os olhos do coração e botar em minha balança as duas decisões e observar se iria desequilibrar. se sim, eu já saberia qual é a resposta. escolha, dualidade e parceria. ela disse que deveria ser meu mantra. sempre construir opções de escolha, aprender a conviver com os dois lados buscando SEMPRE equilibrar com minhas crenças e experiências e ter possibilidade de construir vínculos que houvessem companheirismo e interesses em comum para partilhar da circunstâncias da vida.

andando enquanto me contava sobre sua trajetória, ela me leva até uma torre pegando fogo, um raio de iluminação havia recém atingido o topo da torre. enquanto a torre pegava fogo, duas pessoas se jogavam da janela e eu me perguntei se aquilo era um dejavu. eles não sabiam onde cairiam e mesmo assim, pularam em grande desespero. eu observei a queda até começar a ebulir entendendo que quem havia se jogado era eu e minha zona de conforto.

senti que meu tapete fora puxado e eu havia caído de cara num grande desconforto que veio associado a mudanças necessárias. e, é aí que Exu me aparece gargalhando e dançando sob as ruínas do que sobrou de algum lugar que um dia conseguirei dizer que foi a minha vida. gargalhando e levantando poeira dos escombros dos meus cacos, ele enquanto girava e me mostrando bem sua capa, sua cartola e seu punhal. enquanto cantava que ele continuaria a guardar as encruzilhadas do meu ser, disse em alto e bom som: eu sou o caos que precede a ordem!

foi chorando caída no chão que pude ver a barra da saia desfeita da mulher de cabelos enrolados e volumosos, em sua pele escura como a noite ela vem trazendo histórias de ruínas e reconstruções. ela estendeu a mão e orientou o que eu deveria fazer: “levante, é hora de sacudir a poeira. erga sua cabeça encontre a lógica e a razão, se não seu coração ainda te levará a ruína novamente se não você não se cuidar”.

enquanto andava em direções que nunca passei, ela foi me contando que era o momento de construir as fundações que me manteriam de pé o resto da vida, mas que talvez, fosse necessário voltar lá para ir fazendo reparos, afinal… quem tá vivo sempre muda, né?

o raio da iluminação é quem parte a coroa posta no topo e incendeia a torre me mostrando o quão fútil e mesquinha posso ser quando quem reina em meu Orí é o ego e não seus donos. pequena, fraca e invejosa. é quem sou quando quem me comanda é o ego. a linda mulher retoma seus conselhos ao capturar meus olhos flamejando junto com o fogo da transformação que impera na torre. me dando uma chave grande e antiga, ela me diz que essa torre iria cair porque ela já estava pequena demais para me abrigar e assim, velhas estruturas romperiam se eu estivesse atenta ao caminho e as mudanças. desmoronar é um passo importante para que as mudanças sejam de fato bem executadas. ela começa a ir embora dizendo que já havia jogado fora parte das velhas malas abarrotadas de mal hábito, inveja, mesquinhez, medo e insegurança que carreguei muito tempo. era chegado o momento de gozar no privilégio de vínculos mais fortes e mais bem estabelecidos e que eu aprenderia mais ainda sobre as novas estruturas que apoiariam meu crescimento e minha expansão. eu mal podia esperar por isso! ela disse que minha barriga pesada que gestava meu novo começo iria doer. quando ela se vai na escuridão, começo a sentir as contrações.
a qualquer momento, eu vou parir.

em busca dessas novas estruturas, vaguei sem saber muito bem para qual caminho retornar e, logo em frente, vejo uma caveira em cima de um cavalo empunhando uma bandeira com uma flor enquanto um homem suplicava por misericórdia.
eu não tive medo, fiquei encantada com aquela cena… afinal, sempre fui secretamente inebriada pela pulsão de morte.

quando chego perto, pergunto qual caminho seguir para chegar nas minhas novas construções, o homem não desceu de seu cavalo para falar comigo e fez com que o cavalo andasse devagar para que eu pudesse o acompanhar. ele viu que eu ia parir a qualquer momento. o homem-caveira brilhava num tom amarelo enquanto contrastava com sua armadura negra e brilhosa. perguntei porque ele brilhava e me respondeu sutilmente apesar da sua voz grave:
“aprendi muito sobre iluminação do espírito e fui presenteado com essa cor. meu cavalo é branco e te acompanha porque é livre para construir o que quiser, ele te ensinará melhor do que eu sobre liberdade assim que você entender porque as coisas morrem.”

ele foi caminhando vagarosamente porque me viu cansada e chorosa mas via minha esperança de dias melhores me explicou que todos nós estamos vestidos com armaduras negras. elas são nossas sombras e sempre estarão lá, mas a escolha de sucumbir ou reerguer é somente nossa. a partir dessa escolha poderia enterrar tudo que já estava morto em mim e que aí sim eu conseguiria enxergar a beleza plantada pelo caos da torre. eu já havia aprendido em um caminho totalmente diferente desse que há beleza no caos. o homem-caveira seguiu dizendo que o que está morto apodrece porque é a lei natural da vida.

seguimos caminhando enquanto ia me contando sobre como era ser o mensageiro daquilo que se finda, arrisco dizer que se mudasse a ótica de parar de ver o final como um ponto final, mas sim como uma luz que apontará para o nascer de novos rumos, eu e metade do planeta sofreríamos menos. mas será que estamos prontos e decididos a sofrer menos? ele segue sendo firme quando diz que para toda morte há um recomeço. ele olhando sempre em frente diz:
‘o caos é necessário para varrer aquilo que não emancipa, que está estagnado. e eu venho ensinando sem muita paciência porque não há tempo a perder. o tempo passa, a vida é finita. e você não nasceu para ser telespectadora da sua própria história. você é como as estações… elas mudam, você muda. ninguém é a mesma pessoa depois de aceitar e enfrentar um fim. é a partir do avistar do final que você começa a parir o que é novo. o novo vem de dentro de você. a força que você teve para gestar a si, precisa ser posta pra fora no momento certo.”

logo ele me dá diretrizes para onde eu deveria me direcionar para parir aquele novo ser, precisava ter calma e ser racional inicialmente. toda mudança trás turbulência mental. eu precisava me reconectar para poder ter forças para parir, foi quando ele me ensinou três palavras. estrutura, estabilidade e fundação. me pergunta se tenho alguma dessas coisas e lágrimas escorrem no meu rosto enquanto eu digo que não. caio no chão gritando de dor enquanto ele segue seu caminho com seu cavalo branco, me deixando para trás. ele não olha para trás em nenhum momento, ele sabe que estou pronta.

é deitada num chão sem base que começo a empurrar aquele ser que está querendo abrilhantar o mundo. começo a gritar e sentir que vou parir. eu estou sozinha e pela primeira vez, eu não sinto medo. só consigo sentir alívio. quando escuto o choro de um bebê… quando eu pego no colo, seus olhos me mostram meu grande sonho.

o que carrego em meu ventre são meus sonhos e é com a força de parir um mundo inteiro que me agarro nas mudanças para seguir de cabeça erguida.
dessa vez, quem quiser estar comigo precisa parir a si mesmo porque estarei ocupada dedicando meu tempo ao meu bebê-sonho.

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