2020.
Pensei e repensei a forma de escrever esse texto e vai assim mesmo, após a última sessão de terapia do ano.
Em 2020 eu cresci, evoluí, dei passos grandes e passos minúsculos, me encontrei e me distanciei e eu fiz pausas.
Fiquei com receio desse texto parecer good vibes tóxico demais e desistir de escrever várias e várias vezes. E eu sou grata a esse ano que se passa. Sou grata por todos os atravessamentos, questões e distanciamentos necessários nesse ano que foi e está sendo dolorido pra muita gente. Inclusive pra mim.
Durante o percorrer desse ano houveram muitas perdas e muitos encontros. Iniciei o ano dentro de um caos muito grande e um conflito que parecia ser interminável dentro do meu relacionamento amoroso. E cá estou aqui, dia 30 de Dezembro sentada no quarto que será da minha filha na casa em que compartilharei com meu companheiro.
Durante esse ano inteiro eu lutei contra minha própria vontade até entender que esse é um caminho possível e que pode ser muito bonito: dividir a vida com alguém que eu ame e me ame também. Passei um bom tempo dizendo que jamais me colocaria nesse papel uma outra vez e fiquei muito tempo lutando contra meu próprio desejo de partilhar a casa, a vida, um quarto, uma cama… E eu sou muito grata por esse ano ter conseguido romper com isso e me deixar ser feliz.
Em 2020 eu me afastei dos meus amigos e me reaproximei de um jeito único e mais maduro da minha própria família. Foi um ano de conflitos também no meu núcleo familiar, sempre foi muito conflituoso, mas que enfim consegui reaprender sobre o conceito de paz dentro da casa com a minha família. Eu fiz as pazes com minha mãe e com essa imagem dela impressa na minha cabeça enquanto eu ainda era uma criança. Eu aprendi a valorizar e a entender muita coisa que diz respeito a nossa relação. Foi nesse ano que eu entendi que a busca pela diferenciação sempre foi o desejo de romper com a dinâmica familiar conturbada e que por mais que eu me afaste, eu tenho muito de cada integrante que constituí minha família. E eu tô aprendendo que eu posso me afastar de conteúdos e vivencias com eles que não fazem sentido pra mim, mas que eu também posso me aproximar daquilo que somos e buscamos juntos.
Em 2020, eu consegui me harmonizar com a minha maternidade. Porra, esse foi o mais dolorido e o mais bonito de poder mudar. É um mérito meu e eu me orgulho profundamente de ter conseguido olhar meus monstros de frente e tentar entender cada um deles. Eu ainda tenho muito a caminhar, mas eu enfrentei parte deles sem tremer na base e sem recorrer a medicação controlada. Me sinto extremamente vitoriosa por ter feito esse trabalho de harmonizade com o acolhimento da minha psicóloga, com meu companheiro, com minha mãe, com minha filha e comigo mesma.
Em 2020, eu aprendi a me reconectar com meu lado espiritual. Eu tô aprendendo muita coisa ainda, mas sigo feliz por essa caminhada iluminada até aqui. Agradeço a Virgem Soberana Mãe, ao Patriarca São José, ao Rei Juramidam, a Corte Celestial, ao Santo Daime, a tribo Arco Íris, ao pai Jackson, as mães Valéria e Cláudia, a minha amiga Kali e ao Maurício que me convidou a reconectar com essa parte adormecida em mim. Me mostraram a ponte com o Divino e que eu posso caminhar nessa ponte com minhas próprias pernas.
Em 2020, eu vivi tantos processos que tenho ciência que precisarão ter continuidade no próximo ano. E eu me sinto feliz e orgulhosa de mim mesma por ter caminhado até aqui firme e forte. E pela primeira vez na vida, me vi uma guerreira, batalhadora e tentante de caminhos possíveis. Eu me firmei!
Em 2020, eu vi muito caos e senti muito caos planetário e eu chorei inúmeras vezes ao ver que esse caos continuará nos próximos anos e que a gente precisa trabalhar muito pra amenizar o futuro que os nossos vivenciarão. Esse ano foi doloroso sim, foi choroso, foi desesperador mas também foi bom pra mim. Em um ano eu amadureci pelo menos três.
Eu aprendi a ver caminhos de possibilidades, ver que o caos existirá sempre mas que é possível tirar proveito e ver além do caos. Eu aprendi a trilhar caminhos menos dolorosos. Eu aprendi a me amar e amar o próximo. Eu aprendi a acolher e ser acolhida. Eu aprendi que a gente perde, mas a gente também ganha. Eu aprendi que é tentando que dá certo. Eu aprendi a reconhecer que em alguma medida ei também sou inteligente.
Foi em 2020 que eu vi e fez sentido a miração que eu tive no primeiro feitio de Daime que participei na vida, eu pari uma luz enquanto estava deitada no tronco da árvore na beira do lago. E fez sentido os sonhos que tive depois parindo uma luz… Eu pari a luz que eu posso ser. Eu pari a minha própria mudança e meus caminhos possíveis. Eu pari a mim mesma.
E é em 2020 que vejo minha bisavó entre o ficar e o partir. Vejo o amor mais puro e o caminho possível que eu construí junto com ela no percorrer das nossas vidas. Eu sou mais do que grata a todos os ensinamentos que ela me deixou enquanto herança e a mais valiosa. Foi com essa força que ela sempre teve e eu que ela continua me ensinando, que eu posso encontrar caminhos possíveis. Eu encerro esse ano e esse texto, minha Damásia, dizendo que eu te amo e te honro! Que a senhora encontre o caminho que é possível hoje.
E foi em 2020 que eu aprendi ver beleza em meio ao caos. Gratidão!